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Niterói, 20 de julho de 2024,
Querido Rio,
Hoje é sábado e em estou em Niterói, mas também estou no Rio. Sempre estou no Rio, mesmo quando estou em Niterói, em São Paulo ou em Paris. Rio, você se imprime em mim. Às vezes sinto raiva de você. Cidade temperamental, que quando fica arisca não se deixa aproximar. Se preciso passar ali na vizinha SP, passagem por oitocentos reais? O quê é isso? Desde quando nossa distância ficou maior que o nordeste brasileiro? Sou sua vizinha, Rio. Sua vizinha, moradora, amante, fundadora. O carro passa pela orla de Copacabana, abro a janela. Boto a cabeça pra fora como uma criança admirada, rio das esculturas de areia, amo o cheiro de mar e me sinto como aquelas pessoas que tatuam um monumento em homenagem a uma cidade, só que ao contrário. É você que me tatuou, Rio. Por onde passo, me vejo em você: isso sou eu, aqui sou eu, por ali sou, conheço aqui, sinto esse cantinho, dentro do meu coração, já estive por aqui. Um constante déjà-vu, uma mistura de infância com turismo, resultado de ter ficado e saído tantas vezes. É por isso que você me esnoba, cidade? Prometo ser uma moradora melhor. Nunca mais ir embora, tirar férias e sempre voltar. Nunca mais andar pelas suas ruas exuberantes olhando no celular e sempre parar pra olhar o sol antes de atravessar o sinal. Sempre conhecer todas as suas praias e todos os seus vendedores de coco. Não deixar nunca ninguém falar mal de ti. Deixar de lado todas as mazelas, violência, pobreza, calçadas quebradas, tecer só elogios, sugar cada gota do tempo que temos juntas, antes que o próximo furacão nos derrube a nós duas. Mas Rio, você me deve coisas, sabe. Eu também não me esqueci. Os ônibus com ar-condicionado, eu tanto pedi, você entregou. A Praia do Flamengo banhável, essa eu nem sonhava, você me deu também. Atravessar as montanhas, túneis eternos, até viaduto você fez desaparecer. Olimpíadas e outros jogos te maquiaram, mas não enganam que te conhece de outras bandas. E Rio você não me deu tudo. Não me deu uma casa pagável com piso de taco. Vista pro Cristo. Vista pro Mar. Nem de ladinho. Rio, você. Tão charmoso. Pensa que me engana. Eu vou ficar até o futuro, exigir tudo, sempre agradecer o sol e o mar. Você vai ver só.
Uma ótima viagem a todos! :)
PS. Querides leitores, agosto é um mês especial - eu completo 36 anos e chego ao final da pós-graduação que cursei na puc rio sobre literatura e escrita. Isso significa que nos próximos meses me dedicarei a produzir o trabalho de conclusão de curso, então essa newsletter vai ficar pausada até segunda ordem. Quando quiserem ler meus textos, é só acessar o site da Trem das Onze, que tem todo o arquivo dessa news inteiro e separado em abas temáticas :)
:Dicas a bordo:
~ Já fez dois anos que voltei pro Rio e escrevi isso aqui
~ O último plano: pra quem tava sentindo falta de bons podcasts narrativos, esse podcast da jornalista Renata Ribeiro sobre o Plano Real tá excelente
~ “Onde está a arte?” Newsletter - descoberta mais recente de uma ótima forma de acompanhar o que tá acontecendo no mundo da arte
~ Escreva uma carta <3 (
)Até a próxima!
Luísa
tô voltando pro Rio agora depois de uns anos fora e esbarrei nesse texto. Incrível como essa cidade provoca tantos afetos na gente. Lindo texto e felicidades pra ti nessa cidade que tanto amamos ou em qualquer lugar.
Também és de agosto! Boa pausa aqui, bom trabalho lá, querida. Achei esta edição inspiradora e com cheiro de mar ❤️