#71 Arado torto
Eu gostava daquela capa cor-de-rosinha do livro "Torto arado". Até que eu descobri que ela é uma ilustração baseada nessa foto aí de cima, com uma força e uma expressão que me desculpem, mas a capa não tem.
Esse é o livro do momento: literatura, produzida por um homem que é funcionário público, e cuja formação casa com a direção de ir afundo no Brasil: geografia. Essa é uma história que ele viu e aprendeu em trabalhos no interior. Vivências que ampliaram sua visão do mundo não em direção àquilo que a gente aprende na faculdade como ser o combo progresso-futuro-europa-tecnologia-eua, mas em direção às nossas próprias raízes enquanto país, enquanto povo e enquanto terra.
Então, me desculpem novamente, mas Torto Arado é um livro de arquitetura. Parece estranho, mas pouco se estuda nas FAU's (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) pelo Brasil a arquitetura que nos constitui para além da colonização. Nem comunidades e técnicas de construção indígenas, nem especificidades africanas, e ouso dizer que também bem pouco se fala fora do eixo temático urbano-metropolitano. Torto Arado é completo. Atravessando toda a narrativa, vemos como se deu a distribuição de terras por aqui. Das capitanias hereditárias, às posses do homem branco, a violência, a guerra. Vemos também a disputa simbólica de poder: os trabalhadores são proibidos de construir suas casas de tijolos, pois essa é a forma, a cor, o tato e a postura da casa do patrão. Então constrói-se com o que se tem por ali: terra. A casa de terra que é precária, que se desfaz, que se confunde com a paisagem, que não resiste às chuvas: terra é trabalho, alguém diz. A terra não serve se nela não for aplicado o trabalho dos trabalhadores. Que trabalham sua comida, sua casa, suas famílias, sua vida. Tá tudo ali.
Gosto muito dessa foto e acho que ela fala muito do que é o livro e também representa muito do que é a construção civil na maior parte das margens do Brasil: crua, precária, para sobrevivência e feita por mulheres.
Em tempo, essa é uma casa de taipa:
Uma ótima viagem a todos!
:Dicas a bordo:
~ Caetano estacionou no Leblon dez anos atrás, mas o depoimento da autora desse registro é simplesmente imperdível (Revista Piauí)
~ Um mapa de todas as rádios do mundo
~ Vão abrir um hotel no espaço sideral e vai ser em 2027
~ Caminhar, atitude anticapitalista
Até a próxima,
Luísa