#125 Ambulantes no metrô
Pela janela do carro, pela tela, pela janela
“Desejo a todos uma ótima viagem, ótima e excelente, viu pessoal”
Sexta-feira, 8 horas da manhã.
No metrô do Rio, as estações tem uma trilha sonora latente. Uma identidade sonora – às mentes distraídas, um aviso - estamos no metrô.
Buzina longa, as portas vão se fechar.
Nas plataformas, aguardam o trem todas as pessoas previstas no plano para caber no trem.
E talvez algumas mais. Todas as pessoas na cidade precisam se deslocar.
Às 8 horas da manhã.
Vagão lotado sentido Jardim Oceânico.
Atrás de mim, entra um vendedor de fones de ouvido. Cumprimenta todos com bom dia, nos lembrando que já é sexta-feira.
A todo momento, pede para que olhemos pra ele e para o fone de ouvido que ele comercializa.
Talvez seja melhor do que o que eu uso (que me permite ouvi-lo contra a minha vontade).
“Pessoal, dá uma olhadinha pra cá.
Pra você que treina, pra você que corre, pra você que malha. Pratica algum tipo de esporte? Ele é o fone ideal”.
Nesse momento, a única atividade física que eu espero presenciar é alguém se levantar e abrir lugar pra eu sentar.
Em um trem em movimento, com pessoas em pé seguras apenas por uma barra acima da cabeça, braço levantado, o vendedor anuncia
“Eu sou o único vendedor aqui dentro que dou 30 dias de garantia no produto, aonde eu passo o instagram oficial da nossa loja e meu contato pessoal”.
É sobre fazer uma compra, presencialmente, estando em movimento, no subsolo da cidade dentro de um vagão, e reclamar o dano do produto em um lugar que não existe, nem em movimento, nem parado. Depois da precarização do tempo, a evaporação do espaço.
“30 não é preço, 30 é promoção”.
Uma pessoa levanta, eu sento.
De costas para o sentido do trem, o metrô corre como um esportista.
Uma ótima viagem a todos! :)
:Dicas a bordo:
~ Eu amo quando a
escreve sobre a vida universitária e tudo que mudou nela com as crises contemporâneas~ Uma conversa genial sobre o golpe capitalista que é tentar controlar a vida toda com a produtividade que virou senso comum
~ “The home as a place of production”
~ O renascimento da poesia brasileira (podcast Gama Revista)
Até a próxima!
Luísa
"Depois da precarização do tempo, a evaporação do espaço" me pegou :]
A garantia de troca é a mesma de encontrarmos pessoas aleatórias em nosso dia a dia, digo que não é tão ruim hein?
adorei o texto!