Amizades urbanas
A série americana de tv “Sex and the City” contava a história de quatro amigas que viviam em Nova York e, por mais simples que essa descrição possa parecer, ela revolucionou a história da tv por lá, principalmente por mudar a forma como se mostrava a relação entre mulheres (e a cidade) na mídia.
Como eu cresci na década de 1990, ver mulheres circulando com liberdade pela cidade não era lá algo que eu achava muito novidade, mas sim, eu sigo lendo Leslie Kern e há um capítulo dedicado às amigas. Preciso concordar com ela que as amizades são uma das partes mais gostosas da vida urbana embora não tenham o devido protagonismo nas telas.
“A união de meninas em espaços urbanos desafia as percepções sobre para quem é a cidade. Ao se apropriar de espaços abandonados ou masculinos, deixando sua marca no grafite e, ocasionalmente, explodindo em violência própria, a cidade como “patriarcado em vidro e pedra” é relançada como um espaço de possibilidade”. (Trecho do livro “Cidade feminista: a luta pelo espaço em um mundo desenhado por homens).
A falta de liberdade de ir e vir foi possivelmente o que mais mudou na pandemia nas cidades, mas a liberdade de ir e vir com elas é o que mais me faz falta. Nos meus tempos de faculdade no Rio de Janeiro, a gente ia das chopadas no centro do rio pra festinhas em Niterói em sequência, pegávamos ônibus no início da noite, tinha show no Circo Voador, barzinho na lapa e carnaval na rua. A gente escondia documento e celular na roupa mas tava tudo bem, e estávamos juntas.
Eu também sinto falta da informalidade do dia-a-dia urbano, talvez da época em que as coisas não precisavam ser tão agendadas. A excelente jornalista de Anne Hellen Petersen definiu isso muito bem em seu texto sobre a “The errand friend”: aquela amiga ou amigo que te acompanha na xérox da faculdade, só porque temos tempo (eu amo essa expressão em inglês “run an errand” porque ela não tem tradução direta pro português, mas sempre aparece nos filmes por aí, seria algo como “tarefas” ou “tarefas burocráticas”). Algo como ir ajudar o amigo com a mudança, fazer compras, coisas que não são exatamente super divertidas, mas ficam menos chatas quando se tem companhia. Elas falam de muita intimidade e simplicidade. Bater na porta só pra ver se a pessoa está em casa, dar uma volta no bairro, tomar um sorvete no domingo.
O café da manhã da sexta-feira passada entrevistou um professor que disse que a pandemia está perto de acabar e que acredita que a vida vai sim voltar ao normal. Pode ser que o mês carnavalesco que o Eduardo Paes fique só no discurso, mas eu recomendo demais esse episódio-sopro-de-bons-ventos-urbanos, estamos precisando.
PS. A Carla Soares, criadora do projeto Outra Cozinha (Um projeto artístico que usa a comida pra investigar o mundo contemporâneo), indicou minha newsletter e várias pessoas novas chegaram por aqui, bem-vindes! Me encantam as relações criadas online, um espaço tão ilimitado, mas onde mesmo assim ideias encontram convergência <3
Uma ótima viagem a todos! :)
:Dicas a bordo:
Especial ~ as melhores séries sobre amizade, mulheres, cidades e campos, centros e subúrbios:
~ Pose, um seriado imperdível sobre quando as amizades se tornam família, e como enfrentar a cidade quando ela é tão dura;
~“Firefly lane (traduzida para “Amigas para sempre” na Netflix), com a ótima Katherine Heigl de Grey’s Anatomy, sobre amizade e amadurecimento;
~ “Mãe só tem duas” (Netflix), série linda e sensível mulheres, amizade e maternidade;
~ “Entre vinho e vinagre”: o reencontro de amigas de longa data na califórnia;
~ O Bam bus: essa história inusitada e divertida;
~ Where does the good go, essa música linda, da melhor cena, da melhor história.
Até a próxima!
Luísa
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