Em São Paulo, os terminais intermodais de mobilidade urbana tem, além do nome do local, o nome de um time de futebol. Esses são os que eu sei de cabeça.
Terminal Portuguesa-Tietê;
Terminal Palmeiras-Barra funda;
Terminal Santos-Imigrantes;
Terminal São Paulo-Morumbi;
No Rio de Janeiro, os times de futebol também tem nomes de bairro (Botafogo, Flamengo, Bangu e etc) e essa talvez seja o mais próximo que o mundo urbano me levou dos esportes, uma vez que desse universo eu entendo bem pouco.
Mas julho chegou e, mesmo observando de canto de olho, eu fui atravessada pelas Olimpíadas de Tokyo. Quem me conhece sabe que eu tenho um interesse total de zero por esportes num geral, ao mesmo tempo em que amo participar de uma festa coletiva. Então, de 4 em 4 anos eu fico sem saber o que fazer para participar da energia tão forte que é a de torcer junto. Na Copa do mundo de futebol, eu me viro: tem cerveja, todo mundo que se junta em frente à tv, festa na rua, é mais fácil para os estrangeiros desse mundo, como eu, partilharem dele. Mas nas Olimpíadas a coisa fica meio solta, são muitos esportes diversos, cada um torce pra uma coisa, a maioria das modalidades eu não sei nem o nome, fico perdida, sem saber em qual canal virar a esquina.
Até o dia que chega a ginástica. Eu devia ter uns 8 anos quando uma amiga da escola foi treinar no clube do Flamengo e dava sempre chance pras coleguinhas aprenderem com ela e treinarem no pátio da escola a “plantar bananeiras e cair em ponte”. É esse o nome que eu me lembro. De alguma forma, sempre que eu vejo algo de ginástica olímpica me emociono, consigo sentir o potencial da força do nosso corpo, mesmo que de tão longe.
Quem me conhece também sabe que foi uma enorme coincidência o meu primeiro trabalho como arquiteta ser no projeto executivo (aquele da obra) do Estádio do Corinthians. O ano era 2012 e eu consigo lembrar de uma energia de animação no ar sobre o fato do Brasil sediar a copa. Durou pouco. As obras atrasadas e superfaturadas começaram a vir à tona, estádios em cidades sem time, um “legado” marcado pelas remoções do governo Eduardo Paes, por uma reforma do Porto que nunca virou Maravilha, pela luta da comunidade da Vila Autódromo por ser direito de existir - mesmo situada ao lado do parque olímpico carioca. Junho de 2013 explodiu e “não vai ter copa” virou um lema.
Mas teve.
Foquei minhas energias na ideia de que o Corinthians era uma “torcida com um time” e não um “time com uma torcida” e aprendi muito. Eu mal sabia onde ficava o bairro de Itaquera, na zona leste bem leste de São Paulo, não podia nem sonhar que um dia moraria em São Paulo e que o Terminal Intermodal Corinthians-Itaquera, vizinho ao estádio, seria um dos meus objetos de pesquisa no Doutorado.
Eu não entendia dos jogos mas gostava muito dos projetos pra multidões. Do grande porte, dos fluxos, das arquibancadas. Da logística dos trabalhadores, da ponte nordestina que mais uma vez cruzava a metrópole, das história de campeonatos na obra cujos times chamavam “Ruim Madrid” e “Barcelama”. Visitei a obra quase que escondida porque meu chefe muito bacana ~só que não~ não achava maneiro a equipe do Rio vir pra SP.
Essa quinta feira eu dei muita sorte: liguei a tv na hora que estava passando a Rebecca. Nas barras paralelas, na barra, no solo, nos maiôs cheios de brilho e olha, que bonito. Fico boba boba torcendo pra elas e me sinto mais uma vez atravessada por uma histeria coletiva que faz muito, muito sentido. Quer saber? Adoraria estar em Paris em 2024.
Uma ótima viagem a todos! :)
:Dicas a bordo:
~ O podcast Betoneira conversou com o jornalista José Trajano sobre times de bairro
~ “Crônicas de uma cidade em obras”: foi lançado o livro fruto do pós-doc da arquiteta Paula Silveira de Paoli sobre o Rio de Janeiro olímpico
~ O centro de São Paulo vivido por personagens comuns como protagonistas: está imperdível a série “Manhãs de Setembro” com as atrizes Liniker e Karine Teles (de “Bacurau” e “Que horas ela volta”) dando um show
~ Christian Dunker me fez finalmente entender o que é empatia (e não tem a ver com se colocar no lugar do outro!)
~ “Considerações sobre o direito inalienável de derrubar estátuas”: Vladmir Sfatle sobre o caso Borba Gato
~ O Padre Julio Lancellotti está recolhendo doações para atender à moradores de rua nesse frio de São Paulo, através da Paróquia São Miguel Arcanjo. Informações aqui.
Até a próxima!
Luísa
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Esperando por vc em Paris, Lu