Biblioteca de Babel
A imagem é uma foto aérea que eu tirei desse vídeo promocional do Pompidou
Os tempos são de guerra à cultura. Enquanto quadrinhos adolescentes são o centro da polêmica da Bienal do Livro, alguns políticos mais sensatos mostram ao prefeito o que é impróprio numa cidade. Lembro de ir na bienal do rio desde criança, parecia um paraíso aquele lugar tão grande tão cheio de novidades em forma de letras e imagens. Tendo me formado no início de 2012, cursei uma faculdade inteira onde as coisas modernas eram grupos do yahoo e orkut. O kindle ia acabar com os livros assim como a tv ia acabar com a literatura e fazer projetos arquitetônicos de bibliotecas era coisa ultrapassada e careta. Ninguém mais iria a esses lugares. Legal mesmo era projetar centros culturais agitados e sonhar com projeções em telas grandes e outras ficções científicas tecnológicas pelas quais nunca pensaríamos passar um smartphone.
Em 2019, museus e demais centros culturais tentam explicar o recorde de público à exposições de pinturas e outras artes, e bibliotecas oferecem cursos, feiras, cinemas, oficinas e tal e coisa. Em São Paulo, a Biblioteca Mario de Andrade chegou a abrir 24 horas por um período, e hoje abre das 8 da manhã às 22hrs de segunda à sexta, e até às 20h sábado e domingo.
Em Paris não tinha mal tempo: fizesse chuva fizesse sol, as bibliotecas onde eu ia pesquisar e estudar estavam sempre lotadas, mesmo 22 horas da noite, mesmo sábados, mesmo domingos de sol. A que mais me marcou foi a do museu de arte moderna, o Pompidou. Ela ocupa quase metade do prédio que não passa desapercebido, bem no meio de uma arte considerada difícil de ser assimilada pelo público leigo. É difícil explicar o que é a BPI: Biblioteca Pública de Informação do museu. Há livros, um acervo assim de abrangente. Há uma secção de música, onde na mesa de leitura há vitrolas e logo ao lado pianos disponíveis com fones de ouvido. E há também uma seção de televisões, onde é possível sentar-se, colocar os fones e assistir um filme, um vídeo, um debate, uma palestra, um curso. Há um espaço de auto-formação. Nesses espaços, bem como nas mesas tradicionais de estudos, há um acordo invisível: estamos todos aqui. De um lado quadros listrados, esculturas estranhas, painéis de instalação, um bidê que se diz fonte. Do outro, adolescentes com livros de matemática, banlieuesards (moradores das periferias, a “banlieue”) que buscam um lugar pra estudar, senhoras e senhores idosos, pesquisadores, alunos, leitores. Algo como o Centro Cultural São Paulo (CCSP), ali se conseguiu fazer conviver diferentes classes sociais em respeito mútuo. Entrada gratuita, informação transbordando, liberdade e cultura formam culturas democráticas, e não deviam ser só uma luz no fim do túnel.
Uma ótima viagem a todos! :)
: Dicas a bordo :
~ Porquê a literatura infantojuvenil incomoda tanto? Excelente entrevista no podcast Café da Manhã
~ Faleceu aos 94 anos, esta segunda dia 9, o fotógrafo Roberto Frank, autor do fotolivro "The Americans", que marcou a história da fotografia (El País)
~ O modo como vivemos hoje: uma visão fotográfica do século XXI de tirar o fôlego (The Guardian)
~ Começou a 12º Bienal de Arquitetura de São Paulo
~Infraestrutura e fotografia: a ficção científica real que eu mais gosto
~ "Não há pranto que apague, dos meus olhos, o clarão, nem metrópole onde eu não veja o luar, o luar do sertão" - saiu o clipe da versão incrível da Daíra cantando Belchior <3
Até a próxima,
Luísa
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