Camadas de tempos abertos
Edição 98! Caminhamos pro final do ano e eu tomei coragem pra abrir uma caixinha de Natal, comemorativa das 100 edições que essa newsletter vai ter até o final do ano. Se você gosta desse trabalho, considere me pagar um cafézinho :) O valor é aberto (sim, 5 reais tá valendo!) e meu pix é meu email: luisa.agtg@gmail.com
“O que ninguém te conta sobre aniversários é que quando vc fica um ano mais velha você ainda tem todas as idades que teve antes dessa. Quando vc acorda no dia do seu aniversário, você espera se sentir com a sua nova idade mas você não sente. Você abre os olhos e é tudo exatamente como era ontem. Eu ainda me sinto como se tivesse 23, e eu tenho, atrás do ano que me fez ter 24. Um dia eu posso dizer uma coisa idiota, e essa é a parte de mim que tem 13 anos. Ou talvez eu não me sinta tão confiante, e essa é a parte de mim que tem 15. Talvez eu queira muito aprender algo novo, e essa é a parte de mim que tem 10. E se por qualquer razão eu precisar chorar como um bebezinho, essa é a parte de mim que tem um ano. Porque a maneira que a gente envelhece é mais ou menos como uma cebola, um ano dentro do outro, e os nossos aniversários são todos comemorações dos anos anteriores”.
Uma aluna minha compartilhou esse texto, mas não sabia a autoria. Achei simbólico e potente, tanto pras pessoas, quanto pras cidades, quanto pros trânsitos. Voltei pro Rio e me lembrei que as pessoas aqui abraçam pessoas quando se apresentam, mesmo sem se conhecer direito antes. Comecei um trabalho novo e me abraçaram e isso é o que eu chamo de boas vindas. Fui em uma festa e conversei duas horas com uma pessoa que conheço, mas que não via há uns 5 anos. São as versões antigas de nós mesmos que se encontram com versões antigas das outras pessoas e com isso reconfiguram o que são as versões presentes de si mesmas, seja por não esquecer do que passou, seja por ser feliz com o fato de que ainda estamos aqui e sentimentos antigos de companheirismo não se perdem com o tempo. A felicidade refresca as pessoas.
Conheci essa semana uma arquiteta indiana que faz projetos tão bonitos quanto a melhor arquitetura moderna brasileira, só que melhor. Ela já viajou o mundo estudando e dando aulas sobre suas obras na Índia, mas me pergunto se conhece o Brasil. A arquitetura contemporânea tem que dar conta de um clima em colapso e muitas vezes, mesmo assim, carrega em si versões de arquiteturas que eram contemporâneas há cem anos atrás, quando ainda achávamos que a humanidade duraria pra sempre. Construir nos trópicos é abrir portas. Um arquiteto ou uma arquiteta são considerados um “jovens profissionais” até 40 anos, talvez porque são necessárias muitas camadas de anos e versões de si mesmo para criar respostas coesas para climas em colapso. Às vezes só dá certo nos prédios, às vezes as ideias sobrevivem ao tempo. Enquanto tentamos acolher as camadas das nossas próprias construções, seguimos projetando.
Uma ótima viagem a todos! :)
Até a próxima!
Luísa