Casa das rosas, dos livros e da avenida paulista
A Avenida Paulista é o ponto mais alto da cidade de São Paulo se a gente desconsiderar o pico do Jaraguá, que não fica exatamente na cidade que a gente vive, só naquela do mapa mesmo. Durante boa parte do século XX, quando São Paulo se concentrava ali pela área da República e Sé, a avenida era ocupada por casarões de barões do café e outros ricos que se inspiravam em arquiteturas europeias pra contruí-los e passar suas tardes em áreas mais arejadas e agradáveis que o centro movimentado.
Quando a cidade avançou por essas bandas, que foi quando as tecnologias de construção foram permitindo que os prédios fossem mais altos e que foi também quando os prédios altos viraram símbolo de "modernidade", a Paulista viu sua paisagem mudar rapidamente. Quando foi regulamentado que alguns casarões seriam tombados para preservar esse momento da história, alguns proprietários acharam melhor demolir logo a casa e vender o terreno pra construção dos tais prédios altos. Poucos foram os casarões que sobreviveram. Numa pontinha da avenida fica a Casa das Rosas, que tinha sido residência da filha do Ramos de Azevedo, arquiteto que projetou alguns dos cenários da vida burguesa ascendente da São Paulo do século XIX: o Teatro Municipal, o Mercado Público Municipal e a Pinacoteca do Estado.
A Casa das Rosas, construída em 1935 com 30 quartos, jardim, edícula, quadras e pomar, faz parte de um circuito chamado "Casas literárias": três antigas residências em São Paulo transformadas em espaços dedicados à literatura. Cada uma tem foco cada uma em um autor paulista: Haroldo de Campos (1929-2003), poeta e tradutor, expoente da poesia concreta, Mario de Andrade (1893-1945), poeta, escritor, crítico literário e musicólogo de grande influência na literatura moderna brasileira, e Guilherme de Almeida (1890 -1969), advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor, que foi junto com Mario de Andrade um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922.
Na casa onde viveu Guilherme, além de exposições e cursos fica o Centro de Estudos de Tradução Literária. A casa de Mario abriga o programa Oficinas culturais, e a Casa das Rosas, inaugurada em 2004 como "Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura", é minha vizinha, o que faz com que eu lembre de toda essa história toda vez que dou uma volta pela Paulista. Lá tem eventos de literatura, cursos, exposições e um café gostoso, o que faz com que as pessoas entrem mesmo fora da programação normal. Tem também, claro, um roseiral impressionante que faz você esquecer que está numa das avenidas mais importantes da cidade. Aí você levanta os olhos, vê esse prédio espelhado sem sentido logo atrás, e lembra.
Uma ótima viagem a todos! :)
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Até a próxima,
Luísa