Das terras e plantas de cada dia
Há não muito tempo atrás, tomei conhecimento de uma jornalista catarinense que tinha decidido criar um blog sobre receiras feitas de plantas que custavam menos de dez reais. E nem vegana ela era (calma, hoje ela já é). Ela só achava que, se a comida não fosse acessível pra todas as pessoas, ela não valia a pena. Pra aprender tudo isso ela teve que entender os ciclos de produção da agricultura no Brasil, época de cada planta, e, principalmente, porque uma laranja custa mais caro que um chocolate industrializado.
Já sabemos que a comida que chega na casa do brasileiro é em boa parte produzida pela agricultura familiar, já que as grandes fazendas produzem, em sua maioria, soja e outros produtos para exportação ou alimentação de gado. Do pequeno produtor, nós aqui em São Paulo não sabemos nem o nome. Mentira, hoje em dia não é difícil achar entregas em domicílio de caixas de produtos orgânicos de famílias que estão pelas redondezas, mas a cidade cresceu tão rápido que a gente perdeu de vista a parte rural e as influências na nossa comida.
Eu não tenho o veganismo no meu horizonte, mas com o trabalho da Juliana Gomes no Comida Saudável pra Todos eu passei a aprender formas muito mais interessantes de preparar legumes, verduras e hortaliças, e, sobretudo, a conhecer a cultura por trás das nossas tradições alimentícias, que são uma bela mistureba. Na Netflix descobri outro dia um documentário excelente sobre a migração italiana pras Américas (focado em Nova York e Buenos Aires) e como essas origens foram transformadas ao chegar aqui, muito pelos produtos que estavam ou não disponíveis, como usar manteiga quando o azeite não era disponível, ou pelas preferências de cada lugar, como quando os americanos colocaram almôndegas no macarrão. Lembrei também que São Paulo tem uma cidade chamada Terra Roxa, bem naquele circuito onde imigrantes italianos vieram trabalhar em plantações de café, e que na verdade chamavam de terra rossa (terra vemelha, em italiano), que se refere à sua cor real.
É através da comida que a gente sabe que tipo de terra tem em volta, que animais habitam (na frança é bem comum comer coelho e pato, por exemplo) por ali, que frutas as árvores dão e como são as pessoas. E nem vem falar de globalização, que o sushi no japão não é frito e na itália a pizza não tem chocolate! Em tempos em que o desmatamento na amazônia e a produção de agrotóxicos afetam diretamente a vida nas cidades, já sabemos que reduzir o consumo de carne é bom pro planeta, pra saúde, pra alma e pras cidades. Talvez o caminho esteja na cesta de orgânicos, talvez no hamburguer do futuro, mas na dúvida, é bom ficar de olho pra saber de onde vem o que tá no seu prato.
Uma ótima viagem a todos! :)
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: Dicas a bordo :
~ A newsletter imperdível da Juliana que você recebe ao apoiar o projeto dela no Catarse com apenas 7 reais
~ A viagem da comida italiana pelas americas - um documentário delicioso na Netflix
~ 7 comidas "italianas" servidas no Brasil que não existem na Itália
~ 10 hortas urbanas que fazem parte da cidade de São Paulo
~ Esse podcast sobre a comida do futuro
~ E esse aqui sobre como se alimentar em caso de total caos urbano (estamos falando no Chile)
Até a próxima,
Luísa
ps. Quer ler as cartinhas antigas? Vai no View Letters Archive. Gostou dessa newsletter e quer compartilhar? Esse é o link! Se quiser responder à essa cartinha, é só responder ao e-mail mesmo, e é muito bem-vindo :)