
Não uma história DA arquitetura, mas uma história NA arquitetura. Há muito tempo atrás, eu estudei história da arquitetura. Um professor do mestrado que fisgou meu interesse pra esse campo publicou um livro novo em que nos convida a olhar não os espaços metidos em uma linha do tempo, como se o tempo fosse uma linha, mas fazer o contrário, olhar os tempos metidos nos espaços, nas arquiteturas.
Gostei e pensei em todas as coisas que testemunham tempos que (não) ficam. Nos tempos abrigados dentro de espaços. Nos espaços como templos e vestígio de tempos que vão embora, e outros que não vão. Na casa em que eu cresci, que acomoda, sem problema algum, a tataravó polonesa que eu nunca conheci. Não estou falando de fantasmas.
Nos aviões - esses sim, detentores de todos os sonhos de futuro que a humanidade já teve, de Ícaro aos lunáticos, voando por sobre todos os tempos e todos os espaços.
Ou no prédio da FAU, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo onde eu trabalho, sustentando tomadas dos anos 50 para todos os aparatos tecnológicos que precisamos conectar hoje. Nos seus jovens da elite carioca que por tantas décadas foram seu público, dando lugar às mais diversas periferias metropolitanas e seus representantes. Um palácio modernista que permanece até hoje grandioso, sólido, sóbrio, como quase todos os palácios modernistas, apenar dos encanamentos bêbados, da precariedade entorpecida que o toma de assalto ano após ano.
E então ela, a praia de Copacabana. Muitas histórias na arquitetura desse piso instável, de areia, que já foi as costas das casas da elite carioca que foi aos poucos ocupando a orla e valorizando o mergulho no mar. Que ganhou calçada de pedrinhas e que eu sempre amei. Que eu sempre quis estar e que agora estou, às vezes achando que não caibo no cordão de luzes que acendem no entardecer. Os meus lugares do Rio que três anos depois ainda me surpreendo como fui deixando minhas pegadas. Minha casa já é poesia. Ela observa, surpresa, as impressões que a minha própria mente fazia dela nos anos 90. Do futuro, ela sabe que estará, tijolo e tempo, nas marcas dos projetos que eu cultivei em todos esses tempos.
Uma ótima viagem a todos! :)
: Dicas a bordo :
~ 10 lugares que não existem mais
~ Uma crônica deliciosa sobre o “baixo” Botafogo
~ Cem anos de invenção - uma história da revista New Yorker
~ Gourmetizaram o rio e também a praia
Até a próxima!
Luísa
Luísa do céu, que coisa mais linda conseguiste escrever a partir do título já lindo por si mesmo desta instalação que me deixou curiosíssima. Arrisco dizer que o artista ficaria feliz em ler esta edição, assim como eu fiquei e sei que outras pessoas também ficaram e ficarão. E, como se isso tudo não bastasse, que alegria ver um texto meu citado ao final. Obrigada, por tudo.
que texto mais lindo, Luísa ! ❤️