Dos luxos coletivos
Feliz ano novo!
O ano de 2020 é um ano de eleições municipais. Por aqui, comecei só seguindo o final do ano passado, trabalhando na minha pesquisa e pensando em temas muito presentes na escala do município: mobilidade urbana, arquitetura, projeto e desenvolvimento urbano. Na última boa gestão que tivemos, a do Haddad, a mobilidade urbana virou tema através da rede de ciclovias que ele criou. Infelizmente, a rede não pode se resumir às vias por onde bicicletas são autorizadas a passar. Mesmo se fosse assim, a estrutura precisa de melhoramentos: de ciclofaixas a ciclovias, eliminação de rotas sem saída, conexões intermodais e por aí vai. Se a gente quiser sonhar um pouquinho mais e pensar num funcionamento realmente eficiente pro dia-a-dia, algumas estruturas para as pessoas também poderiam existir, como vestiários, armários, e bicicletários mais presentes. Se não essa atividade fica reduzida a lazer - e não participa dos trajetos metropolitanos. Ok, ninguém vai cruzar a metrópole de bicicleta, mas ela poderia ser sim um dos modais de um sistema integrado.
Esse início de ano recebi essa excelente newsletter de um jovem urbanista canadense chamada Radical Urbanist, onde ele fala sobre a ideia de "vivência comunitária e luxos públicos". Algo muito municipal e que muito me agrada. Talvez você não esteja familiarizado com isso porque na maioria das grandes cidades do Brasil tudo que é público é muito precarizado. Com alguma chance podemos contar com as obras da natureza, que teoricamente são de acesso livre público e gratuito, mas mesmo assim as vezes péssimas gestões estatais conseguem estragar - e ficamos com o cenário inconformável de pequenos paraísos como a enseada de Botafogo, ser imprópria pra banho. "Luxo" é um termo normalmente associado exclusivamente ao que é privado. Em shopping luxuoso em São Paulo, não é possível entrar a pé - isso mesmo, um edifício projetado no meio urbano, mas diálogo com o automóvel.
Mas os luxos públicos são esses espaços que oferecem serviços para todos - que podem ser gratuitos ou podem ter preços acessíveis. Em São Paulo os espaços do Sesc funcionam dessa forma, oferecendo cursos, atividades e mesmo espaços livres onde você tem o direito de permanecer na cidade de forma livre e acessível, mas também podemos colocar nessa lista as ciclovias, os parques públicos, as bibliotecas públicas e, porque não, piscinas. Lá em Paris eu tive a oportunidade de conhecer uma rede piscinas públicas muito bem estruturadas, com passe mensal ou anual e aplicativo pra organizar tudo. No verão, a prefeitura montou uma estrutura temporária na beira de alguns rios, com espreguiçadeiras, armários, chuveiros e com funcionários. Tudo de graça. Parece um sonho socialista, mas não é tão difícil assim. Mesmo em São Paulo tem várias piscinas públicas que a gente as vezes não conhece, mas por favor, o verão tá aí, aproveitem.
Uma ótima viagem a todos! :)
Esse ano vou experimentar fazer a newsletter quinzenal. Até daqui duas semanas!
:Dicas a bordo :
~ O colapso urbano gerado pelos automóveis, que são comercializados como uma necessidade popular, mas foram criados para as elites
~ O Nexo fez um balanço dessa década pra tentar entender como entramos com promessas de pluralidade e terminamos com uma guinada ao autoritarismo
~ Como a mobilidade urbana pode reduzir desigualdades sociais (podcast - tem no spotify)
~ Uma entrevista em podcast com um morador de uma comunidade ribeirinha no Amazonas
~ Um mapa do metrô que na verdade é do corpo humano
Até a próxima,
Luísa