Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela...
...quem é ela? quem é ela? eu vejo tudo enquadrado, remoto controle.
(Adriana Calcanhoto, "Esquadros", 1992).
O controle é uma das maiores ilusões que a gente tem nessa vida. Pro trabalho do arquiteto isso é um grande problema, já que com um projeto de arquitetura imaginamos delimitar diversos fatores que vão garantir a ocupação a ou b de um espaço que ainda não existe. Esse final de semana acompanhei um grupo de estudantes alemãs num workshop que tratava de espaço público. Focamos num lugar muito conhecido aqui em São Paulo e um dos meu preferidos na cidade: o vão livre do MASP, o Museu de Arte de São Paulo.
Levar estrangeiros para lugares famosos é legal pra ver e ouvir impressões completamente novas e repensar conceitos. Calçadão, avenida, mirante, museu, arte, pra quem? Sol, sombra, passagem, permanência, encontro, dormir, pra quem? Onde? No MASP, a arquiteta Lina Bo Bardi decidu suspender o prédio do chão, criando uma plataforma-mirante que de um lado partilha da calçada da Avenida Paulista e, do outro, serve de mirante ao vale da avenida 9 de julho. Com metade de sua área coberta, metade ao sol e essas duas bordas muito singulares, o vão livre virou um ponto de encontro. O que é espaço público? Quem é esse público? Ocupam o espaço de forma diferente?
Uma das partes da pesquisa era entrevistar pessoas que estivessem por lá. Conversamos com artistas moradores de rua, com pessoas oferecendo serviços/vendendo produtos, com adolescentes, com turistas, com visitantes do museu e algumas outras pessoas mais.
Poucas vezes vi estudantes de arquitetura e urbanismo tão engajados em conhecer e analisar um local antes de sair projetando, desenhando, intervindo. Antes de tentar controlar, entender. De um pequeno espaço singular, tanto chão, tanta coisa, tanta desigualdade social, tanta arte, tanto brasil.
Não dá pra resumir tudo, mas queria deixar umas perguntinhas aqui pra quem sabe inspirar sua próxima voltinha por aí:
O espaço urbano por onde você anda é público? Quem tem autorização para estar lá? E porquê? Você se sente acolhido nas ruas por onde passa? Você faz coisas à pé na sua cidade? Você se sente confortável pra sentar no banco ou mureta? Se apoiar, deitar, subir, olhar? Qual espaço urbano você gosta de estar?
(Essa foto não é de São Paulo, mas guardo no coração essa menininha jogada em cima do leão. Tirei em Veneza quando fui pra uma bienal cujo tema era "As pessoas se encontram na arquitetura" <3)
Uma ótima viagem a todos!
: Dicas a bordo :
~ O francês JR é um artista que trabalha com grandes intervenções no espaço público. Esse final de semana ele fez isso no Louvre em comemoração aos 30 anos da pirâmide de acesso :O
~ O trabalho que ele fez no metrô de Paris também é maravilhoso
~ Carta Capital: Mulheres são as que mais caminham, e as que menos decidem nas cidades
~ Common Edge é um dos poucos sites de textos de arquitetura e cidades que eu acho que consegue dialogar tanto com arquitetos quanto com o público em geral
- Viajar nas palavras: o instagram @frenchwords é um doce de acompanhar (e aprender!)
Até a próxima,
Luísa
ps. Quer ler as cartinhas antigas? Vai no View Letters Archive.