Ponte aérea tropical
Ilustração da Eva Uviedo
"Não lembro a última vez que presenciei uma chuva de granizo, e confesso que escrever sobre o som de pedriscos caindo chama por outra atenção. Em São Paulo a chuva não avisa, vem quando quer, mesmo que cinco minutos antes um sol brilhante reinasse no céu. É no verão que São Paulo mais se aproxima do Rio. Traz energia, desconforto, horário novo, suor, intensidade, quem pode corre para a praia antes que a saudade e/ou vontade aperte. Se você, como eu, tem a ponte aérea na sua rotina, vai perceber que na terra da garoa nem o calor nem a chuva forte deixaram a desejar. Mas se no Rio o calor (desespero) é uma certeza nessa época do ano, em São Paulo a conversa sol-chuva é, como quase todas as outras coisas, um teste para ver se você está esperto - e levou um guarda-chuva na bolsa.
É no verão que São Paulo mais compartilha do que o Rio tem de melhor: luz, cerveja gelada, a chance de sair com roupas leves e confortáveis, a chance de sair. Se você, como eu, tem pelo sol devido amor, gostou de ver em fevereiro sua primeira aparição convidativa. Se não, espera só um pouquinho que final de abril logo chega. É com certa forma carioca que se tem visto ruas cheias de dia e de noite dos encontros que em São Paulo tão frequentemente acontecem dentro dos edifícios, seja pela temperatura ingrata, seja pela bela dimensão urbana que tantos deles alcançam. Mas a ocupação coletiva das ruas alcançou novas alturas no último final de semana, pegando desprevenido quem achou que pegaria o metrô para chegar rápido no bloco e encontrou ares de Rio de Janeiro no subterrâneo.
É que foi nesse preciso mês mais carioca que há que São Paulo foi tomado por uma outra multidão. Não aquela que comprime rios de carros. Não aquela que pede por cercas-guias na porta do trem. Não aquela que faz fila. Adeus lado direito na escada rolante. Foi na corda do bloco de carnaval que a cidade viu seu sertão de concreto virar mar – de gente. Se você estava em São Paulo no último final de semana, ouviu o metrô ressoar corais de marchinhas. Deu no El País a largada do carnaval paulista deixando claro a vocação de rua que a cidade assumiu nos últimos anos, uma verdadeira realidade pedestre. E, assim como no Rio, São Paulo parece concordar que quatro dias não bastam para tomar a rua em festa. Ainda bem".
São Paulo, verão de 2017, depois de um inverno
que me deu medo. Em 2019,
tá tudo bem.
Uma ótima viagem a todos! :)
: Dicas a bordo :
~ Esse texto lindo sobre mudanças, espaços e lar.
~ Porquê enviar humanos à lua? (NY Times)
~ O papel das cidades na questão da imigração e refugiados
Até a próxima,
Luísa