No dia 19 de março essa newsletter completou 5 anos e muito poderia ser dito, mas o calor do momento silenciou essa e algumas outras coisas. Comecei a escrever essa publicação por vontade de escrever, apenas; descobri que havia essa universo paralelo das redes sociais e me fissurei. Até hoje ainda gosto bastante da primeira edição:
Foi o dia anterior, dia 18, o dia que eu mais esperei há tanto tempo atrás e há tanto tempo recente. E mesmo assim, me deparei com o fato de que a gente tenta tenta planejar as coisas, mas nosso cérebro deixa sempre escapar algumas contas. Eu não me toquei que, sendo convocada para dar aulas na federal no final do semestre, que eu não começaria dando aulas. E assim, eu fiquei, por cinco meses, aguardando. Observando. Cuidando dos bastidores, trabalhando, atravessando o verão (carioca). A sensação mais forte foi a de silêncio - e não soube lidar com ele, acho. Costumo preencher todos os espaços de sons e pensamentos e listas - mas não teve jeito. Tudo aconteceu e depois nada aconteceu e eu fiquei em silêncio.
As aulas começaram numa atmosfera de surrealismo - porque me custa acreditar, arquitetura moderna, início do outono e tantas coisas que sempre quis convergindo em uma mesma cena. Da janela eu vejo a cidade ao longe, o céu do rio de janeiro submetido à aparatos industriais que paisagem moderna nenhuma teria previsto. Pouco daquela vista parece faz muito sentido, mas o prédio sobrevive há uns bons cinquenta anos de pouca manutenção e brigas de verbas. Vidro, concreto, madeira, cerâmicas e arquitetura de muita qualidade. Foi nesse espaço que eu parei e respirei. Suspendi a roda de correr atrás do meu próprio rabo que sempre senti me puxar. Parei de correr e comecei a observar. Por isso foi no silêncio de “Dias perfeitos” que eu me traduzi: um latente embasbacamento com o passar dos dias e suas coisinhas. Com tratar de se manter, de repetir, de abrir o colchonete e de guardar. No meio disso topar com banheiros públicos que parecem galerias de arte contemporânea.
Não é tão simples se abrir ao processo - a mente prega peças. Quando o espaço fica muito grande — controle, controlo, faço listas, faço contas, organizo, organizo. A ilusão de pôr *ordem* na vida - pior, pôr ordem no futuro. “Pôr ordem no futuro”! Na dúvida, limpar banheiros que já estão limpos, de novo e de novo. Não. Não. Não. Voltar, abrir, respirar, esticar. Dias perfeitos. Fotografar, ler, atravessar viadutos. Ver a família, aguardar, entender. Ouvir, chorar, estender a vista - pela janela. Dias perfeitos.
If you hold the stone (marinheiro só)
Hold it in your hand (marinheiro só)
If you feel the weight (marinheiro só)
You'll never be late (marinheiro só)
To understand
Uma ótima viagem a todos! :)
:Dicas a bordo:
~ O episódio do podcast Cinemático sobre “Dias Perfeitos”
~ “Vocês eram tanta coisa e no fundo só queriam isso?” Um texto da Tati Bernardi que me tocou muito
~ “A cidade flerta” até pros fascistas:
sempre me deixa morrendo de rir com seus textos. Eles tem o meu tipo de humor preferido: frente ao absurdo, o deboche!~ Caetano canta em outras línguas: uma playlist imperdível do spotify
Até a próxima!
Luísa
Mto fã! Adoro sua news. Amei a brincadeira com a ordem do texto e a experiência de leitura com isso 💗
Muitas comemorações, cinco anos de news e uma federal na conta! Parabéns!!