Finalmente eu consegui fazer uma viagem que sonhava há anos: conhecer o Deserto do Atacama, no Chile, e o Salar do Uyuni, na Bolívia. Foram 14 dias e 13 noites no total: 4 em Santiago, 5 no Atacama, 4 no Uyuni e um só pros vôos de volta. É difícil colocar em palavras a magnitude dos altiplanos Andinos, mas estou aqui pra tentar.
Eu fui sozinha porque quis, e foi incrível. Passei perrengues, conheci gente do mundo todo, conversei em quatro idiomas, tentei amizade com uma llama, cantei Evidências no karaokê e topei com cariocas que conheciam meus amigos - as conexões do mundo estão espalhadas de uma maneira estranha. Sobretudo, me vi imersa nos cenários mais lindos que já vi na vida e amei respirar fundo o imenso ar de beleza do nosso planeta.
É preciso dizer: viajar dá trabalho. Fazia alguns anos que eu não fazia uma viagem longa e eu tinha me esquecido. Você tem que checar reservas de hospedagem, o modo de sair e chegar no aeroporto, o quanto precisa de dinheiro vivo e no cartão. A conversão da moeda pode ser bem difícil e você pode até não montar um roteiro de passeios, mas aí tem que aceitar topar com locais fechados, trajetos longos e se confundir com o horário do pôr-do-sol. Eu fiquei irritada de errar certas coisas bobas, mas também entendi que faz parte. Eu me lembrei da pessoa que eu sempre fui, que sempre viajou, e me prometi nunca mais ficar tanto tempo sem ir pra fora do meu lugar, cidade, estado e país.
E aí eu cheguei no Atacama. Eu tenho uma teoria sobre viagens que é não ficar vendo fotos dos lugares antes de ir. Sei lá, acho que perde a graça, o sentido. De toda forma, na minha cabeça a Cordilheira dos Andes era um conjunto de montanhas pontiagudas, e eu *amei* conhecer de supetão o conceito de “Altiplanos Andinos”, ou seja, um planalto. É difícil mostrar com fotos a sensação de estar lá, porque as fotos obviamente tem um limite de margens, e o planalto não. De início eu estranhei a aridez do deserto, estando eu acostumada à tropicalidade do Rio de Janeiro, mas aos poucos aquilo foi entrando em mim, a imensidão do horizonte, o silêncio, a ausência de tudo, vegetação, animais, uma llama aqui, uma vicuña ali, um matinho acolá e nada, muito muito nada.
Eu me surpreendi (e amei) com a quantidade de idosos viajando sozinhos (sendo que, teoricamente, não são passeios recomendados para grávidas e idosos por conta da altitude) -, mas também famílias com crianças e adolescentes, fora casais. Vi europes mochilando há meses, famílias que viajaram do Rio Grande do Sul de carro, os próprios chilenos conhecendo seu país e muitos brasileiros. Do que perguntei por aí, acho que ser uma viagem cara e muito organizada ajudou a atrair esses grupos e pessoas. É cara por conta do preço do dolar atualmente, mas também porque os passeios são todos feitos em “tours”, ou seja, vans organizadas por agência que reunem um grupo de pessoas para levar aos parques, que não ficam super perto do vilarejo San Pedro de Atacama em si.
De San Pedro de Atacama, o vilajero base para conhecer os parques do deserto, eu fui pro Salar do Uyuni, que é um tour separado (você pode inclusive não voltar pra San Pedro e seguir viagem pela Bolívia ou mesmo vir de lá, fazendo o caminho contrário). São quatro dias no mesmo carro, com o mesmo grupo, cada noite dormindo em uma hospedagem, em uma verdadeira expedição pelos planaltos e montanhas dos Andes, até chegar no salar em si no segundo dia à noite. É aí que dormimos no famoso hotel de sal e acordamos bem cedinho no terceiro dia pra ver o sol nascer no Salar.
Eu amei essa viagem. Me senti em uma verdadeira expedição pelo altiplano e, por isso mesmo curti o processo. Isso posto, acho que é importante se situar sobre o que está acontecendo ali. Não uma é viagem turística qualquer, você ir conhecer um lugar normalmente habitado, com toda a infraestrutura urbana ou quase urbana que se montam em praias e outros lugares por aí. O deserto é no meio do nada. E é lindo. Eu me senti de fato privilegiada de poder ter acesso àqueles espaços e grata aos bolivianos por organizar expedições para que gente do mundo todo possa estar lá. Achei injusto reclamar do serviço (se eu te contar o auê que me fizeram sobre a Bolívia) - não me faltou nada, carro, cama, banheiro, comida. Também não me faltou informação, embora eu tenha me permitido não saber o roteiro de cada dia de cabeça e apenas ir seguindo o ritmo do passeio. Em cada percurso que os carros faziam em conjunto, a maneira como os motoristas sabiam conduzir pelas estradas ou por caminhos no meio das paisagens eu achei maravilhoso. Recomendo a todo mundo mundo poder esticar a visão em 360º pelo infinito, cercado de montanhas e vulcões, com a imponência do clima árido. Aqui e ali, como que num milagre, um fiozinho de água restava de um rio e um pântano verde gigante aparecia. Aqui e ali, uma lagoa de águas super azuis refletiam as montanhas como num espelho sem razão. Não vou colocar fotos, pois elas não dão conta. Vão, amigos, viajem.
Por fim, só posso dizer o quanto amo ser brasileira e latina. Não há carisma igual ao nosso povo, entusiasmo, empatia, alegria de viver, amizade, espontaneidade. Os gringos ficam esbasbacados, e com razão. Viva a América Latina ~escrevendo e ouvindo DebíTirarMásFotos, claro~ <3
EXPEDIENTE - agência, locais e etc:
~ Época do ano: eu fiz essa viagem na época das CHUVAS exatamente pra ter mais chance de pegar o Salar do Uyuni espelhado. Nas minhas pesquisas, final de janeiro e início de fevereiro é a melhor época, mas lá ouvi de guias que é possível ter o efeito de espelho até meados de maio.
~ Agências: eu fechei tudo com a @horizonte.atacama, que por sua vez fechou com a parceira boliviana @sajamaexpedicionesoficial e achei as duas excelentes.
~ Os passeios que fiz foram os seguintes (cada passeio tem um nome principal, mas passa por vários outros pontos e paisagens também): Laguna Cejar, Valle del Arco-Íris, Valle de la Luna, Piedras Rojas e Geiser del Tatio. Eu cancelei o Ruta de Los Salares e as Termas de Puritama porque achei melhor tirar um dia pra descansar e me disseram que nesses eu veria paisagens parecidas com as do Uyuni.
~ Dinheiro vivo: sim, esses lugares ainda trabalham com notas e moedas! Não considere que tudo pode ser pago no cartão, separe dinheiro pra trocar lá no país.
~ Fronteiras: de Santiago para o Atacama é uma viagem de avião (a cidade mais próxima com aeroporto é Calama) e entre o Chile e a Bolívia passamos por três fronteiras, entre entradas, saídas e aduanas, então separe bem seus documentos.
Uma ótima viagem a todos! :)
: Dicas a bordo :
~ Mas afinal, o Bad Bunny é Andaluz? Por que esses sotaques se parecem tanto?
~ “Tudo o que vivemos antes foi imaginado” - um texto lindo sobre sonhos na
sobre o brilho necessário que os estrangeiros dão às cidades~ Tipografia japonesa: que descoberta gostosa com a
~ Saiu a segunda temporada de Invejosa - série argentina imperdível (Netflix)
~ Ferrante/Flaubert e os romances de formação, com a imperdível
“E o brasil, o irmão mais diferente do rolê em tudo, onde entra nessa? a gente é latino e fodido igual, só precisa mesmo começar a prestar atenção à nossa volta. “ah, mas nos estados unidos, os brasileiros não são considerados latinos” foda-se eles, meu irmão. eu vou lá dar moral pra quem nem conhece geografia direito? por mais que existam diferenças, nosso dna é feito de danças, tambores, cores vivas, temperos, frutas, sabores, paisagens, misticismo, culpa cristã, sincretismo, ditaduras, violência estrutural, festas, paganismo, berço indígena, herança africana e vacina bcg no braço” - vá ler o
sobre o Bad Bunny <3
Até a próxima!
Luísa
Viaje mais e também escreva mais, mulher! Que delícia de relato. Voltei a 2016 quando fiz a mesma rota e também fiquei embasbacada. Também não me faltou nada na Bolívia, porque os bolivianos simplesmente entregaram tudo na hospitalidade. Obrigada pela surpresa da citação ao fim ❤️
Tava ansiosa por esse texto Lu!! A vontade de colocar a mochila nas costas e esquecer do resto....